A descrição da alma

Alma...
A expressão da alma é a certeza da vida em espírito, a que nos dá movimentos para circular por entre a vida e as experiências que ela nos proporciona.
É na alma que ficam registrada todas as nossas sensações e aprendizados.
Passamos pela vida sabendo que tudo que nos ocorre nos ensina e nos compele para avançarmos e de um modo natural, procuramos sempre nos mantermos atentos e vigilantes para o que já nos fez recuar ou mesmo perder.
São os alertas da nossa alma que tem por finalidade proteger nosso espírito de uma vida sem evolução, mas também é nela que ficam todas as nossas passagens por muitos sentimentos que ao longo da vida foram experimentados e na alma ficam interiorizados para nos mostrar, nos capacitar e nos ensinar em como dar o próximo passo sem que tenhamos que novamente passar pela mesma situação as que não mais nos faz avançar e sim nos desfaz em uma nova prisão de sensações de dor...

A alma traz em si seus substantivos de vida e eles é que nos torna quem somos.

Falemos então dos substantivos da alma...
Aqueles que nos faz passar pela vida e deixar que a vida nos marque e que também deixaremos nossa marca.

Substantivos da alma em contos da vida.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Esvaziar-se para viver o amor



Durante muito tempo eu queria receber. Fui condicionado a isso. Quando criança vovó dizia que se eu fizesse a limpeza de casa, cuidasse do cachorro, tirasse boas notas e fosse um “menino de família”, seria aceito por todos. Eu queria receber carinho e por isso cumpri todos os itens, um pouco a contragosto, é bem verdade, mas cumpri. E não recebi carinho. Pelo menos era esta a sensação que tinha, quando criança. Papai estava longe, em seu terceiro casamento, ou quarto, não sei mais. Minha mãe sumira, após nos ter deixado com os sogros. Eu simplesmente queria receber carinho, receber amor.

Cresci. Quanto mais os anos passavam, mais coisas fui aprendendo. Descobri que um físico legal, sarado, deixava as meninas impressionadas. E assim dediquei-me bastante à educação física, trabalhando em especial meus bíceps, que hoje servem de cabide para minha filha. Aprendi que um cara esperto, com muito conhecimento, também é mais valorizado. Li muito, estudei muito, tinha conhecimento de um leque de assuntos, e aquilo que eu não sabia, opinava do mesmo jeito! Não poderia ficar para trás... Eu queria ser aceito pelas meninas, pelos colegas, pela sociedade. No fundo, eu simplesmente queria receber carinho, receber amor. Mas não recebi.

Já mais maduro, disseram-me que deveria casar, ter filhos, formar família. Fiz isso e tive muita sorte em atrair uma esposa e filhos maravilhosos, com os quais compartilho, brigo, aprendo e desaprendo o tempo todo. Acho que agora vou receber carinho, receber amor, pensei! Que nada, apesar da família adorável, permaneci tão vazio como o saco do papai noel da Somália.
Então vi na televisão. O cara que realmente é aceito por todos é aquele que deu certo na vida, é empresário, tem casa própria, um carro, bom padrão de vida. E se fizer obras sociais, aí então estará a um passo do paraíso. Ôba! Yabadabadú! Descobri como ser aceito e receber amor e carinho das pessoas! Dediquei-me fielmente a esses itens, da mesma forma que me dediquei a tirar o cocô do cachorro e a limpar minha pequena casa, quando criança. Não tinha tanto entusiasmo, mas era por uma boa causa: ser aceito! E logo, logo consegui tudo: casa, empresa, padrão de vida, status, cargos... Até bons trabalhos sociais realizei, e neles realmente senti prazer. Mas... não me senti reconhecido, apesar de muitos e muitos elogios. Eu queria receber carinho, amor, e não elogios.

Acabou o estoque de atitudes externas. Tudo o que eu poderia fazer para ser reconhecido e amado eu fiz e... não deu certo. Voltei-me, então, para as atitudes internas. Estudei diversas tradições espiritualistas, principalmente o zen budismo e o taoísmo, onde o foco é... o vazio. Estudei neurolingüística e entendi que todas as crenças que me fizeram ir atrás de sonhos externos eram somente... crenças, idéias que alguém falou e que só são reais enquanto eu acredito que são reais. Aprendi a me observar, olhar os pensamentos e saber que eles também são só... pensamentos. Senti muitas emoções, mais até que o Roberto Carlos. Porém, olhando nos olhos de cada emoção, seja ela agradável ou não, não sobra nada. Emoção é só emoção e deixa de ter sentido se não dou mais sentido a ela.
Tudo ficou vazio e, por um instante, sem sentido. Isso dá uma espécie de agonia, pois a mente adora dar sentido para as coisas... Porém, não havia sentido. Só havia uma coisa. Uma coisinha. Era uma tênue luz brilhando no fundo de um corredor. Fui até a luz, ainda vazio. E subitamente comecei a perceber que não havia nada vazio. Cada respiração de ar era muito cheia. As paredes eram cheias. O escuro era cheio. As lágrimas eram cheias e o universo todo era muito cheio. Sempre foi, mas minha mente estava tão cheia de “coisas que eu tenho que fazer para ser reconhecido e amado” que era impossível ver que nada disso era necessário. A mente racional quer muita coisa, porque não enxerga que já possui tudo. O querer insistentemente cega. O esvaziar preenche.

Foi somente aí que recebi aquilo que tanto procurei fora. Recebi carinho. Recebi amor. E tive a oportunidade de vivenciá-lo. O amor vem lá de dentro, lá do fundinho, onde não há mais nada, e se espalha para fora. Assim, a família fica colorida. O trabalho fica colorido. As obras sociais ficam coloridas. Até os medos e emoções ficam coloridos.

Quando se toca o vazio, a verdadeira vida começa, mas de uma forma completamente diferente do que era antes. É necessário acolher a mente com todos os seus pensamentos e emoções e brincar com ela, assim como brincamos com crianças. E tomar conta da criança, para que ela não “monte em cima” e se ache dona da casa. Se não fazemos isso, começamos a achar que a vida é séria e até o vazio é sério. Como pode ser sério o vazio? Vazio é vazio, e só. Se levo a minha mente a sério, tudo começa a ser chato e preocupante. Começo a ficar cego, novamente. Cada passo ganha um significado e dar significado às coisas é como dar nome às nuvens. O vazio não tem significado. Ele, em si, já é o significado.

Alex Possato

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